segunda-feira, 15 de março de 2010

Sobre tortura mental e física e aprimeira gripe do Ignácio


Meu filho,

Agora que já terminei (por hoje) a minha função de socióloga preparando uma apresentação de um trabalho, já dei início aos trabalhos de dona-de-casa (colocando a roupa na máquina para lavar), vou dar início aos trabalhos de mãe (já que o de esposa agora não é possível, pois teu pai está no trabalho e o de Fernanda, no caso, “eu tendo um pouquinho de tempo pra mim mesma não fazer nada” ou “fazer o que der na telha” é algo impraticável no momento).


Estamos (juntos, é claro) passando pela tua primeira gripe. Estamos (também os dois, quando juntos) passando pelo (talvez) momento mais estressante de nossas vidas juntos (e eu da minha inteira mesmo). Estou (esta, eu sozinha) a ponto de explodir, de entrar em uma espécie de colapso nervoso. NUNCA, EM TODA A MINHA VIDA, IMAGINEI QUE FOSSE TÃO DIFÍCIL CUIDAR DE UM FILHO DOENTE. ESTA É, DEFINITIVAMENTE, A COISA MAIS DIFÍCIL QUE JÁ ENFRENTEI ATÉ AGORA.


Faz cinco (isso mesmo, cinco) noites que eu não durmo. Nesta última, inclusive, deitamos solitários, eu e meu travesseiro, no chão do teu quarto para ouvir a tua respiração e encurtar a distância no caso de precisares de algo. Estou exausta, meu amor. Me sinto algo como a mulher “lixo-humano”.


Nas duas primeiras noites, não dormi medindo a tua febre, te dando anti-térmicos, fazendo trocas intermináveis de lençóis e pijamas molhados pelo teu suor (quando a febre cedia). E, quando pensava que ia fechar os olhos, já eram horas de te olhar ou medicar mais uma vez. Nestes dois dias, ficaste apenas quietinho, sem dar sorrisos, sem querer brincar muito, nem comer. Fiquei preocupada, triste por te ver prostrado.


E, como é comum num “processo gripal” (como diria o teu pediatra), passado esse tempo, é chegada a hora do teu corpinho começar a reagir e colocar as melecas nasais e pulmonares para fora. E foi aí que o problema realmente começou. A febre foi embora (ainda bem), mas vieram os espirros, as tosses, os maus humores, os choramingos, as irritações (minhas e tuas).


É o nariz que tranca e não consegues chupar o bico que cai da boca (e choramingas, ainda dormindo, para que eu o recoloque onde estava), é a tosse que chega e incomoda a tua gargantinha e (também ainda dormindo) faz um biquinho me pedidindo água. E isso, quando consegues dormir, meu amor. O que não tem acontecido com muita facilidade.


Outro problema é o de te dar remédios e limpar teu narizinho. E o banho virou um momento de horror. Não sei mais o que faço. Tenho vontade (O TEMPO TODO) de chorar junto contigo. Estou cansada, é verdade. E o cansaço piora tudo: deprime, irrita, etc., etc. Além de mulher “lixo-humano”, virei a “super estúpida”, pois não tenho conseguido pensar direito nas respostas que dou às perguntas que me são feitas.


Não temos culpa, meu amor. Nem tu de estares passando por isso e nem eu de estar tentando dar TODO o meu esforço para conseguir passar por esse desafio sem traumas (espero que eles sejam só meus, que não fiquem em ti). Apenas estamos aprendendo como a vida entre mãe e filho também pode ser difícil (o que eu achava, até então, que só acontecia na adolescência).


Mesmo exausta, não perdi um milímetro sequer do meu amor por ti, meu filho (apesar de não estar conseguindo demonstrá-lo com a mesma frequência e da mesma maneira). Talvez as coisas logo melhorem e tudo volte ao normal. Talvez eu só quisesse me sentir mais normal mesmo, mais humana, sei lá... a imagem que leio em todo o lugar que vejo sobre mães e filhos é de amor e paciência (logo, me sinto um E.T. pela impaciência e fúria), parece que nenhuma mulher no mundo passa por isso (será que passa?).


Enfim, vai passar. Ontem à noite (já desesperada) liguei pro pediatra e ele disse que esse processo dura, no máximo, três semanas. Obviamente, fiquei mais desesperada ainda. Mas, enfim, vai passar. E tomara que eu resista viva até lá ou que não mate ninguém na rua (melhor ficar em casa), caso contrário terei que contar com os serviços do teu dindo, meu filho querido.

Um comentário: