quinta-feira, 23 de setembro de 2010


Filho,

Ontem, mandei fazer cópias de algumas fotos para completar mais um álbum teu. Sei que as pessoas não costumam mais montar álbuns de papel, mas não abro mão de puxar da estante da sala estas recordações que juntam pó e ocupam lugar (para os mais adeptos das “novas” tecnologias). Adoro olhar, página por página, os dias passando, o tempo correndo... Com o álbum nas mãos, tenho a impressão de ter estado presente em todos os momentos, de não ter perdido nada. E, quando se tem um filho pequeno, que cresce quase que na velocidade da luz (aos olhos de uma mãe muito saudosa e sempre exagerada), não se quer (e também não se admite) perder nenhum momento deste crescimento (ainda que isso seja impossível, ao menos, para as pessoas mentalmente saudáveis).

Na verdade, meu sentimento não é de culpa por não ter estado perto de ti na primeira vez em que bateste palminhas ao ouvir a palavra “parabéns”, ou de estar longe quando cortaste o cabelo (e eu não ter juntado uma mechinha para o álbum de recordações)... Meu sentimento pode ser descrito (será?) como uma espécie de tristeza por perder algumas oportunidades únicas de ver a tua reação a descobertas e conquistas importantes.

Ok. A vida é assim mesmo. Preciso aprender a conviver com isso. Não mentirei dizendo que perco o meu sono (sono? O que é isso? Desde que começaste a acordar às quatro da manhã querendo brincar e conversar, não sei mais o que é isso... Não que tivesse certeza do que é desde que nasceste, mas minhas dúvidas cresceram substancialmente nestas duas últimas semanas), que choro pelos cantos, que ando deprimida. Só sinto uma saudade estranha. Uma saudade de algo que passou (e que não acontecerá novamente) e que eu não estava lá.

Obviamente, daqui pra frente, a coisa toda tende a piorar bastante... E eu vou, a cada dia, me sentindo mais parecida com uma das mães judias que são personagens dos livros do Philip Roth (toda vez que leres um deles, meu filho, certamente lembrarás de mim). A fruta nunca cai (muito) longe do pé.

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