domingo, 21 de março de 2010

Sobre os teus dindos, meu filhote amado


Quando soubemos que estávamos te esperando, fomos, eu e teu pai, logicamente, tratando de pensar quem covidaríamos para serem os teus padrinhos. E, foi muito engraçado quando, ao expormos as nossas idéias juntos, já haviamos pensado, cada um com a sua cabeça, nas mesmas pessoas. Pronto. Estavam escolhidos. Precisávamos convidá-los. Não sabíamos quando fazer o convite. Tu tinhas apenas algumas poucas semanas de existencia.


Surgiu a oportunidade de nos encontrarmos em Barcelona e sairmos juntos para jantar: nós, dindos e a Raffa. Logicamente, tua mãe, muito anciosa, logo tratou de convencer teu pai, muito tranquilo, de convidá-los naquela mesma noite. Confesso que fiquei nervosa, não imaginava qual seria a reação.


Dos poucos detalhes que lembro (apesar de estar absolutamente sóbria, já que o álcool já não podia mais fazer parte das minhas comemorações por meses), lembro de dizer que não sabíamos ainda se seria menino ou menia e que poderia ser um pouco cedo para o convite, mas que gostaríamos muito que eles fossem teus dindos. Tua dinda ficou emocionadíssima, tinha os olhos brilhantes e um sorriso enorme, num tom bordô tingido pelo vinho. Teu dindo ficou quieto, numa espécie de quietude catatônica, com olhos arregalados, surpresos (depois, fui descobrindo aos poucos que se tratava de uma emoção muito forte, difícil de ser, digamos assim, colocada para fora).


Explicamos que não teríamos batizados em religião nenhuma, seita ou coisa parecida (o que, para eles, já aprecia ser algo bem óbvio, dado que conheciam bem a nossa forma de ver o mundo). Dissemos que seriam dindos pelo amor, pela convivência, pelo carinho, por serem especiais pra nós e por tu te tornares especial para eles. Então, já meio que em seguida, passaste a ser chamado de “afi” (já que não tinhamos idéia de se eras menino ou menina, mesmo que a Raffa querida dissesse ter certeza de ser uma menina, pois eu tinha o rosto redondo,o que, certamente, indicava menina). Logo já ganhaste um par de tênis e meias (que ainda usas), vindos de um passeio em Andorra feito pelos teus chi-quér-ri-mos dindos.


Durante o tempo em que estiveste na minha barriga, filhote, foste brindado a cada taça de vinho ou champagne (ou água ou suco, no meu caso), e já se podia ver que eras muito querido pelos dois. A cada consulta com a minha médica ou a cada ecografia que eu fazia, tua dinda queria notícias rápidamente. Queria saber sobre teu crescimento, desenvolvimento, enfim, tudo o que pudéssemos saber antes de te vermos ao vivo.


No dia em que chegaste (apressado, como já disse outras vezes), a tua dinda foi a primeira pessoa em que quis avisar quando entrei no centro obstétrico do hospital e tive a notícia de que nascerias naquela noite. Não pude. Nenhum celular funcionava lá dentro. Fiquei triste, precisava muito dividir com ela aquele momento, pensava muito mesmo nela. Mas teu pai avisou cuidadosamente cada pessoa importante envolvida no “processo” pelo celular, quando foi assinar documentos necessários para a internação.


Lembro dos teus dindos chegando no hospital à noitinha para te ver. Traziam presentes escolhidos com todo o carinho (assim como todos que ganhas até hoje deles), lindos, já querendo te transformar num almofadinha, como eu dizia para eles (o que, em seguida foi contrariamente demonstrado com a camiseta dos Doors e o body dos Beatles que o dindo trouxe pra ti). Tua dinda não tinha palavras. Te olhava e sorria e dizia como era lindo. Falava das tuas mãozinhas expressivas. Teu dindo, mais uma vez, ficou observando, dessa vez sorrindo, parecendo não acreditar que “algo” tão pequenininho podia ser “alguém”. Já eras amado por eles, meu filho, agora passarias, definitivamente, a fazer parte das suas vidas.


Teu dindo fez questão de te dar (segundo teu pai) o presente mais importante que ganhaste: pediu, em segredo, tua certidão de nascimento e foi prontamente te associar ao Internacional. Foram poucas as vezes que vi teu pai tão empolgado com algo como quando abriu o envelope pardo contendo duas carteirinhas do internacional, com a tua foto numa delas. Inesquecível. Dias depois, teu dindo ligava para saber quando poderias ir ao jogo com ele...


Sabe filho, a cada encontro, a cada e-mail ou telefonema que temos ou trocamos com eles, temos certeza de ter feito a escolha certa. Não poderias ser mais querido. Me pego várias vezes falando com teu pai sobre isso e sobre como és amado. Não poderias ser mais amado.


Eu poderia ficar aqui horas e horas escrevendo sobre eles e sobre o amor e a amizade que sentimos por eles, mas acho que (um dia aprenderás isso, tenho certeza), em alguns momentos da vida, as palavras faltam e os abraços, as pequenas coisas da convivência no dia a dia são mais eficazes para demontrar (aprenderás também que as palavras são importantes para falar de sentimentos, mas que as ações têm mais eficácia e sinceridade).


O que posso dizer a eles (e tenho certeza que concordarás futuramente ao entender as “coisas” da vida) é OBRIGADA, MEUS AMADOS E QUERIDOS AMIGOS. Obrigada pela atenção, pelo amor, pelo cuidado que demonstram com o meu filho, com o nosso Ignácio. Obrigada por terem aceitado que ele entrasse na vida de vocês e que, mais que isso, que tenham gostado muito dessa “entrada”.


Obrigada por tudo, meus queridos. Vocês (como pouquíssimos em minha e na do “afi” também) são e sempre serão impressindíveis. Amamos vocês!

2 comentários:

  1. e a reação do dindo (quieto, numa espécie de quietude catatônica), se manifesta novamente...

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  2. E a da Dinda, idem: feliz e tocada, com os olhos lacrimejantes e, de novo, em função das tuas palavras, Fê...Beijos

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