terça-feira, 23 de março de 2010

Sobre a importância da minha "produção"



Teu pai acabou de me dizer que um artigo meu foi citado em outro artigo de dois pesquisadores cujo trabalho é bastante respeitado. Isso me trouxe à cabeça preocupações antigas que, no momento, parecem ter “sumido no ar”. Mas antes de falar qualquer coisa a respeito disso, quero que saibas, se futuramente leres o que escrevo, que, não descarto, nem em meio a todas essas tarefas diárias do teu primeiro ano (que tem se mostrado muito exaustivo pra mim, e é aí que está a explicação do “sumiço”), a idéia de voltar aos “estudos pra valer”.


A opção por te ter, meu filho, fez com que eu abrisse mão de algumas coisas importantes pra mim (assim como deve acontecer com todo mundo que decide ter um filho), e, certamente, a mais relevante delas, foi o tal de “sucesso profissional”. Não que eu não possa tê-lo, mas digamos, que acabei dando uma postergadinha monstra.


A dificuldade de ler e escrever alguma coisa de relevância (ou que eu considerasse de relevância, já que sou meio exigente comigo mesma, coisa que, se já tens condições de ler o que eu escrevo, deve saber, de uma maneira ou de outra) durante a gravidez (já que eu não podia tomar meus “remédinhos para a atenção encantada”) fez com que eu tivesse um ano (2009), digamos assim, com baixíssima produção, se comparado ao ano anterior (quando terminei o meu mestrado). Não deixei de trabalhar, não deixei de pesquisar e me envolver, mas digamos que o meu envolvimento fosse um pouco menos envolvido.


Me preocupava o tempo todo com a idéia de fazer seleção para entrar no doutorado no mês de dezembro (coisa que, se tivesse acontecido na atual circunstância, teria se mostrado algo que poderia ser caracterizado como desumano, para nós dois, ou imbecil, por eu perder momentos fantásticos junto contigo estudando nesse momento), já que não poderia “perder” mais um ano longe da academia. Perdi algumas noites pensando que estava atrasando os estudos da bibliografia recomendada para a prova de seleção, ou como eu escreveria o projeto, ou como faria a prova de frances...


Porém, quando chegaste, não tive mais tempo pra qualquer coisa relativa a outra coisa que não as tuas exigências de filhote recém-nascido. Tudo o que eu fazia era trocar fraldas, dar banho, mamá de duas em duas horas (te confesso que isso parecia um martírio pra mim, quase uma prisão). Foste crescendo e as necessidades foram mudando, mas sempre estavam em primeiro lugar (e ainda permanecem).


Hoje, passados quase oito meses, vejo que o tempo que “perdi” fora da academia, na realidade, para mim, NÃO TEM IMPORTÂNCIA ALGUMA. Vejo que meu tempo não foi “perdido”, mas que foi ganho em outra esfera, muito mais mágica e, atualmente, muito, muito mais gratificante. Percebo que a minha “produção” do ano passado foi muito mais relevante do que qualquer artigo publicado, qualquer participação em congressos ou eventos importantes.


Chegaste, meu amor, mudando aos pouquinhos a minha forma de encarar o mundo e, sem sombra de dúvidas, me ajudaste, sem querer ou saber que o fazia, a descobrir o que quero para meu futuro profissional. Ser tua mãe me tornou uma pessoa muito mais forte, decidida e segura (juro que até perdi a vergonha de falar em público ou de fazer entrevistas com figuras importantes para as pesquisas). Me ensinaste, com apenas uma primeira noite de febre, que existem coisas mais difíceis do que a oratória ou que dão mais frio na barriga do que expor uma dúvida que pode parecer boba.


Poucos meses depois do teu nascimento, me lembro de brincar com o teu vô Tupi (que tenho certeza que futuramente concordarás comigo que é uma das pessoas mais inteligentes do mundo) que o fato de tornar-se mãe fazia uma mulher mais sábia. Logo, eu era uma pessoa muito sábia agora. Sabe, meu amor, acabei me dando conta de que a minha brincadeira tinha um fundo de verdade. Não me tornei sábia em relação ao resto do mundo, mas aprendi melhor sobre a minha vida, sobre os meus valores, sobre os meus limites. Aprendi coisas que anos e anos de terapia passaram a parecer ter apenas delineado. Me ajudaste a torná-las realmente práticas.


E mesmo com todo o meu cansaço acumulado (hoje completaram-se 12 noites que não durmo por mais de uma hora seguida), continuo aberta (e curiosa) a esse aprendizado que vem contigo: sem manuais, sem tratados, sem artigos, sem nada escrito... É engraçado, meu filhote, mas quase todo o conhecimento que nesse momento da vida considero importante vai se construindo entre nós a cada noite mal dormida, a cada brincadeira nova que inventamos, a cada choro, a cada sorriso, a cada lágrima (neste caso, todas minhas, observando que a minha “produção” do ano passado é muito maior do que a minha vida).

Um comentário:

  1. Liiiindo como sempre, Fezuca...Este teu post me fez lembrar que o meu pai chamava o nosso envolvimento de "a nossa apaixonada arquitetura". Não tenho dúvida de que a tua maior produção na vida, mesmo que fizesses 5 doutorados e 10 pós-doutorados, veio dessa barriguinha da foto (linda!) acima...Beijos.

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